segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sobre opostos e/ou a morte do girassol




Sentou-se no corredor do quinto andar lendo Eclesiastes "Tudo tem seu tempo e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer e tempo de morrer. Há tempo de plantar e tempo de colher o que se plantou. Tempo de chorar e tempo de rir. Tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras. Tempo de prantear e tempo de dançar..." Parou nessa frase. Pensava: "Prantear... palavra engraçada."Ficou com isso na cabeça. Se estava escrito plantar e colher, antônimos... Porque prantear e dançar? Sua cabeça não parava de pensar nisso. Opostos, antônimos. Achou, então, que ela era o antônimo de tudo.

Se tudo tem seu antônimo e ela nunca havia visto o seu... Se achou oposta a tudo. "Tudo não é oposto de nada. Tudo é oposto de mim."Riu sozinha e voltou os olhos pra esquerda. Observou a porta do apartamento de D. Margarida, a vizinha rabugenta. " D. Margarida é o oposto de... de... de flores!" Riu mais uma vez. Segurou os pés sem meias que tocavam o piso do corredor frio. "Frio é oposto de sexo." Tampou a boca, como se alguém a tivesse ouvido falar aquilo. Olhou para os lados para ver se não vinha ninguém e gargalhou.

Ouviu passos de alguém que subia as escadas. Baixou o olhar e ficou apertando a caneta que segurava em sua mão esquerda. Viu Sr. Antônio passar e dizer: "Menina, sai da friagem.Vai pegar uma gripe." Sorriu e disse "Vô, não, seu Antônio... vô não." E acompanhou com os olhos Sr. Antônio desaparecer no fim do corredor, onde a escada começava, logo depois da curva.Continuou com o pensamento dos antônimos. O que seria o contrário de água? "Fogo, claro!... Não, não... fogo não! É... É sal! Água hidrata e sal desidrata." Pensou em como seria regar os girassóis e tulipas com sal, até eles morrerem. Lágrimas caíram de seus olhos. "Não quero que minhas flores morram... não quero."

Ouviu a porta do apartamento se abrir, era sua mãe que havia ido chamá-la pra almoçar. Ela a viu sentada chorando... "Mãe, não quero que minhas flores morram! Vamos colocar água nelas todos os dias, toda hora!". A mãe passou a mão pela sua cabeça e lhe disse baixinho: "As flores têm de morrer, filhinha. Só assim elas dão espaço pra que outras flores nasçam e te façam sorrir. Entende? Elas têm que morrer." Ela entendeu. Entendeu que morte é sinônimo de sorriso. Que pra que ela sorrisse, suas flores precisavam morrer. E entendeu, também, que antes do sorriso as lágrimas aparecem... Mas elas aparecem pra regar sua face e germinar sorrisos.

5 comentários:

Bruno Moura disse...

íncrivel como esse pessoal talentoso enxerga a sensibilidade nas coisas.
Adorei de verdade, eu leio Eclesiastes SEMPRE!
Tou refletindo nesse seu texto...
Parabéns.

Jéssika Atademos disse...

parabéns MESMO.
bem escrito e deveras sensível.

adorei.

Manoela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manoela disse...

Naty...você plagiou de onde?

Hehehe

Brinks, eu não esperava menos de você, nega...

Lindo!

DiRenan disse...

Descobri que Renan é antônimo de Érika!