terça-feira, 10 de novembro de 2009

Surtada

1, 2, 3... testando!
Testanto!
Ssssssom!
Ssssssssssoooom!
Pode falar? Ok. Ok...
Cof... cof...
Assim, é a primeira vez que eu falo em público e eu to nervosa. Minha voz tá tremelicando, sabe? Eu to tonta, acho que minha pressão caiu. Pressão cai fácil, né? Poxa... É calor, cai a pressão, é frio, cai a pressão. Eu num sei como acontece isso, não. Coisa de doido!
Mas eu vim aqui, não falar de pressão, mas de depressão. É, vim dar meu relato aberto, assim, ao público.
Dia desses, eu tava numa livraria, na verdade devia ser chamada de revistaria, porque eu vi lá mais revista que livros. Mas assim, tinha uma revista de uma entrevitsa com uma mulher famosa aí, Fernanda num sei do que. Aquela que fez... Fez ou escreveu, num lembro... Os Normais. E ela dizia que hoje em dia, nos tempos modernos, quem num tem depressão é que é esquisito.
Tá, eu fiquei ali pensando um pouco sobre aquilo. Na verdade, refletindo (refletir é mais chique que pensar). Aí, eu achei que até que ela tá certa, sabe? Acho que esses psicólogos nunca faturaram tanto quanto nos dias atuais. E os remédios nunca foram tão karatekas assim... (Acho essa alusão ótima pra falar sbre tarja preta... hehehe). Né? Olha só, aqui, nesse auditório lotado, com esse microfone falhando (inferno!) eu olhei na cara de cada um enquanto eu dizia o que li na revista e se eu vi duas pessoas que não fizeram 'sim' com a cabeça é muito.
É, gente... É normal. Amor te largou? Depressão. Perdeu o emprego? Depressão. Se desiludiu com seu grande sonho? Depressão, depressão, depressão. Ter depressão tá tão comum quanto queda de pressão... (Depressão - de pressão... hã? hã?...hehehe). Na verdade, olhando bem, isso aqui nem se parece com um auditório e não sei porque é que tem gente me olhando. Na verdade, eu to é me sentindo um bagaço de tão sozinha. Na verdade comparar vocês que passam, a um público que me assiste é péssimo. Comparar os restos da banca de jornal a uma livraria é pior. Comparar essa merda dessa coxa de frango com um microfone me faz sentir o que eu realmente sou: só.
Só. Aqui, embaixo desse poste que nem luz acende mais (já acho que nem o poste vai com a minha cara), olhando esse monte de carro passar, sonhando com a volta pra casa - se eu ainda tiver um lugar que eu possa chamar de casa. Estou só há três dias. Desde o dia que ele me deixou e jogou na minha cara que nunca me amou. E isso me faz pensar, ou melhor, refletir, que eu estive só durante um bom tempo da minha vida. Eu é que não queria ver. Eu é que estive cega. Eu é que... me enganei.
E, sim... Isso, sim, pode ser chamado de depressão. E é aí, que, enfim, meu sorriso se abre. Porque? Porque eu olho pra sua cara, é pra sua que passa na minha frente e ignora o que eu digo, e vejo que você também tem essa tal de depressão. Seja qual for o motivo. Eu estou sozinha com a minha dor, ela é unicamente minha, mas não estou só no mundo! Ahahahaha... Ahahahahaha...
Ahahahahahahahahhahahahahahahahahhahahahahaha....

(Continua andando pela rua e gargalhando, atravessa a av. São João e vai dando passadas pesadas e largas... Até perder-se da vista dos poucos que a observavam...)

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