sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Caminho da chuva.

























Antes de cair, a mãe-nuvem lhe ensina tudo sobre sua missão de vida. Será encarregada de encher rios, regar plantas, molhar roupas no varal, instigar beijos em casais apaixonados, limpar janelas, emocionar românticos, alegrar crianças travessas, irritar pintores de casas, virar notícia de TV e inspirar poetas.

Cada gota, ao ouvir as instruções de sua mãe, percebe a importância e a responsabilidade deste trabalho, e entende que deve fazer de tudo para completá-lo com sucesso. Quando se vê pronta, pula. E assim inicia sua vertiginosa jornada na busca de concluir pelo menos uma das tarefas ensinadas pela mãe-nuvem.

Cair: a única coisa que ela ainda sabe fazer: cair.

Cai sabendo que seu tempo é pequeno, que sua missão é importante e que tem inúmeras irmãs ao seu lado. Muitas vezes lutando contra o vento, cai sem saber pra onde, pensa em apenas fazer o melhor. Cai.

Ao se aproximar de algo ela se anima, começa a refletir tudo o que vê e brilha. Cada molécula de água dentro de seu corpo goticular se expande, e sente que poderá servir a algo ou alguém, sente que será útil e que poderá cair, e ir, em paz. Tudo fica mais claro e ela pode ver onde será selado seu destino. Na roupa de alguém, no vidro de alguma janela, na correnteza de um rio ou no coração de um poeta solitário, este que derramará algo de semelhante forma pelos olhos. Seja onde for ela estará feliz por ser. Mesmo pequenina e de vida curta será sentida e vista de alguma forma. Será lembrada.

E esse som... Esse som que escutamos durante a chuva são as gotinhas que ainda não caíram batendo palmas de felicidade ao verem suas irmãs cumprindo suas missões sorrindo, brilhando, e calmamente morrendo. Morrendo felizes.

5 comentários:

Rafa Serafim disse...

Que lindo esse post! Parabéns, Danilo!

Karenina disse...

Lindo este texto sobre a chuva. Quase senti as gotinhas em mim!
Que vontade de tomar chuva...

Parabéns, viu? :)

Raquel disse...

Danilo sempre escreve coisas tãolindas e de forma tão simples!
:)

Manoela disse...

Não é a primeira vez que leio o Dan falando da chuva! Uma delícia...

DiRenan disse...

Maravilhosa a história de sua gota.