quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Dica de Leitura: Luiz Vilela


“Eu ainda não sabia o que queria com ela. Não Sabia. Amor platônico? À primeira vista parecia ser isso, mas não era, era diferente, era uma coisa muito profunda, dolorosa, desesperada, violenta, única, irremediável, absoluta, era um desejo de abraçá-la, estreitá-la no meu peito, o rosto no meu rosto, esmagá-la tão fortemente contra mim que, quando abrisse os braços, ela tombasse morta como uma criancinha morta, ou tivesse repentinamente desaparecido para sempre, como desaparecera a menina loira na noite de circo dos meus dez anos, deixando no cheiro de pipoca e na marchinha que foi ficando para trás toda a tristeza da vida. Não era amor platônico. Amor platônico é um negócio meio besta, de fresco. Às vezes pode até ser bom no começo, mas depois acaba virando um troço chato e irritante. 'Acaba Virando' - é isso, é isso que mata o amor. Acaba virando tédio. Acaba virando infelicidade. E é isso que não haveria com ela. Não haveria 'acaba virando', porque seria um momento só, mas um momento no qual entraria tudo o que eu pensara, sentira, imaginara, desejara, lembrara, esquecera, sonhara, tudo, um momento tão forte, tão profundo, tão vasto, tão absoluto, que depois dele só poderia haver o suicídio ou a resignação total. Seria algo maravilhoso e terrível – como um tremor de terra . Exato: como um tremor de terra. É o que desde criança espero, um tremor de terra, algo que abalasse, que tremesse, que sacudisse tudo.” - Luiz Vilela, Tremor de Terra.

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